Gostaríamos de agradecer a presença de todos no I SIMPÓSIO DE NEUROCIÊNCIA DO EXERCÍCIO. Algumas perguntas dos ouvintes e respostas dos palestrantes durante as mesas redondas do nosso primeiro evento estão nesta postagem.
Para nós do LaNEx é gratificante perceber o interesse crescente pelo efeito do exercício na saúde mental. Esperamos vocês no próximo evento. Até lá!
Qual o papel específico do neuropsicólogo nesse trabalho? O que o diferencia dos outros profissionais?
R: O papel do neuropsicólogo no trabalho com idosos que realizam exercício físico é avaliar suas funções cognitivas através de instrumentos psicológicos/neuropsicológicos antes, durante e após a realização da intervenção com o exercício físico. Assim, o neuropsicólogo a partir da comparação dos resultados dos instrumentos pode verificar os efeitos do exercício físico na cognição desses idosos. Somado a isso ao realizar a avaliação neuropsicológica daqueles idosos que não realizam atividade física, pode-se verificar como está a cognição destes idosos comparada àqueles idosos ativos.
O neuropsicólogo se diferencia dos demais profissionais na medida em que este é o profissional que tem treinamento e autorização para o uso de testes psicológicos/ neuropsicológicos. Somado a isso, o psicólogo é o profissional que eu sua formação estuda as funções cognitivas.
Qual a carga, intensidade e frequencia de exercícios para promover benefícios na cognição?
R: Os exercícios com intensidade moderada, de uma maneira geral, são capazes de promover benefícios na cognição. Estudos mostram que uma frequência mínima de duas vezes semanais, com intensidade moderada/forte (70 a 80%1RM e 60-80%VO2max) é capaz de promover benefícios na cognição.
Com o exercício aeróbio parece ocorrer liberação de espécies reativas de oxigênio e aumento da atividade de enzimas anti-oxidantes. Para o idoso a ação anti-oxidante do exercício supera a ação oxidante?
R: A grande maioria dos estudos que investigou estas questões foi feita em jovens e modelos animais. De um modo geral, as evidências apontam para uma maior resposta antioxidativa com o exercício físico moderado. Entretanto, os idosos parecem responder ao exercício com uma menor resposta tanto de síntese proteica quanto metabólica e hormonal quando comparadas aos jovens. Um dos maiores desafios dentro no contexto do envelhecimento é tentar, através dos fatores modificáveis ou ambientais (exercício, alimentação, sono, poluição, drogas, etc), fazer com que o desequilíbrio (inevitável) seja menos acentuado.
Qual a perspectiva do efeito do exercício em pessoas depressivas e com demais transtornos que possam estar em acompanhamento terapêutico? E qual a função da inserção desses exercícios aliados ao tratamento farmacológico?
R: Os pacientes podem melhorar a resposta ao tratamento e a remissão dos sintomas. Acreditamos que esta intervenção será cada vez mais indicada para pacientes psiquiátricos.
Há uma distinção entre os pacientes deprimidos que gostavam e queriam fazer exercícios físicos e os outros pacientes que não gostavam mas faziam assim mesmo?
R: Não avaliamos o prazer com o exercício, mas certamente a preferência pelo tipo de exercício pode contribuir na aderência e consequentemente na resposta ao tratamento.
Há alguma perspectiva em trabalhar com os efeitos do exercício, com os transtornos de humor (como a distimia)?
R: Sim, damos prioridade do nosso estudo à Depressão Maior, mas a Distimia também é um diagnóstico prevalente que pode ser beneficiado com o exercício físico.
Como foi obtido o VO2máx na esteira?
R: O VO2máx é previsto a partir de um teste submáximo, realizado no Hospital Rocha Maia pela cardiologista responsável. Utilizamos o protocolo adaptado de Bruce. Antes do teste, os pacientes realizam um período de adaptação na esteira para poder estar apto a fazer o teste submáximo.
Já pensaram na estratégia de diferentes metodologias de treinamento aeróbio (contínuo, fracionado, intervalado) com séries isocalóricas?
R: Sim, temos interesse em investigar diferentes metodologias de exercício para avaliar as respostas neurofisiológicas e neuropsicológicas de exercício. Em relação aos jovens, já realizamos pesquisas com incremento de carga até a exaustão e com carga retangular, ambas já publicadas. No entanto com idosos, somente realizamos pesquisas utilizando intensidade moderada contínua, tanto avaliando o efeito agudo quanto crônico. Esperamos em breve trazer mais evidências sobre o assunto.
Os exercícios concomitantes de propiocepção, força e função cognitiva seriam eficazes para a capacidade funcional do paciente com Doença de Parkinson (DP)? A DP pode vir com a presença da Doença de Alzheimer e além disso as limitações são grandes no paciente de DP.
R: Sim. Esse tipo de combinação de métodos são bastante aplicáveis na clínica e muitas pesquisas utilizam esse modelo de intervenção combinando estímulos para diferentes necessidades dos pacientes. Na revisão feita pelo nosso laboratório em 2009 (Deslandes et al., 2009) é possível observar que a maioria dos estudos apresentam intervenções combinadas e seus resultados são em sua maioria voltados para a capacidade funcional.
O estudo de Kawanabe et al. (2007) mostrou o efeito da vibração em idosos, não em pacientes com Parkinson.
R: Sim, o artigo foi realizado com idosos saudáveis.
Mesa
Os protocolos de treinamento aeróbio e de força utilizados nas pesquisas mencionadas são similares aos da ACSM para a população de adultos e idosos. Alguma recomendação especial para a depressão, Alzheimer e Parkinson?
R: As diferenças em relação ao treinamento convencional seriam as preocupações específicas com respostas ao medicamento (hipotensão postural, arritmia) e características de cada doença (alterações de humor, cognição ou resposta motora). Cada diagnóstico tem características específicas que devem ser observadas e avaliadas durante o treinamento, através de testes e escalas específicos. O profissional que trabalha com pacientes com doenças mentais deve estar apto a lidar com as possíveis alterações de comportamento, cognição e função motora e reconhecer as necessidades de cada doença.